poesia suja


as membranas do pensamento infectado com o pior câncer do submundo
perseguem as massas amontoadas que se aquecem no embalo
do ônibus suburbano a rugir pelas ruas com a ira de mil demônios

os olhos piscam na tentativa de sanear a paisagem
as mãos procuram as últimas doses de morfina no fundo falso dos bolsos alheios
o sol inflama o coração dos transeúntes

minha consciencia deseja o jazz e flerta com o rock
meus ouvidos derretem na frequência da poeira radial
o filho chora e a mãe o açoita

tranquilamente, as pombas fazem sua última refeição
nada lhes é negado, à excessão do prazer

RPG 42

42 moedas pro ladrão
1 hora de vida intensa
no dia infinito

42 portas pro mago
1 destino traçado
antes da escolha

42 clérigos ficaram
1 dia inteiro pra conseguir
curar todo mundo

42 porcento é a chance que
1 de vocês tem pra estraçalhar
alguns malditos orcs

42 anões se posicionam
1 bloco sólido avançando
metade se foi

42 dados de seis faces
1 golpe certeiro do guerreiro
fim da história

purgatório

o vagabundo morreu e foi
recepcionado por Minos, que logo
lhe indicou com a cauda à qual
círculo ele ficaria
confinado

suplicou carícias de um deus gelado
e percebeu que nunca havia falado
o idioma dos incrédulos nem
percorrido a estrada dos
incautos

sua paciência, assim como sua
ignorância, aumentaram
metabolicamente
até não caberem mais no
escopo de sua alma
condenada

e, para sua surpresa,
subitamente
deixou de
sentir